Pina vem fazendo um trabalho de extrema qualidade voltado para o Stencil indoor e outdoor. A qualidade e a riqueza de detalhes das suas obras é incrível!
Formado em arquitetura pela Unesp de Bauru, no interior de São Paulo, o artista se encontrou com o grafitti em 2008, o que mudou completamente seu rumo.
Enfim, batemos um papo bem legal com o stencialista e a conversa foi animal. Confira só como foi:
Dionisio Arte: Você lembra como foi o seu primeiro contato com a arte?
Pina: Lembro de alguns momentos da infância que considero marcantes. Quando eu tinha 3 anos, me lembro de uma pintura à mão que fiz e foi a primeira vez que tive consciência de ter feito algo legal e ter ficado satisfeito com aquilo. Claro que eu não sabia o que tinha feito, só que foi divertido e satisfatório.
Durante toda minha infância, tive incentivo pra fazer arte, qualquer que fosse. Acho que isso foi fundamental, inclusive pintando as paredes de casa.
Outro momento simbólico pra mim, foi quando um professor de artes da quinta série me deu uma bronca por pintar com lápis de cor numa direção que não era a que ele tinha mandado. Na época, não vi sentido nenhum naquela repressão e discuti com ele. Anos depois, me lembrei desse dia e percebi que fazer arte é mais que produzir, mas sim se impor como artista e exigir respeito pela forma como você faz seu trabalho. Não existe uma fórmula.
DA: Conta um pouco sobre a sua história. Como chegou nesse ponto?
Pina: O caminho foi longo. Desde criança eu pensava querer trabalhar com arte, sempre desenhei e tal. Mas, com 14 anos, decidi que queria fazer arquitetura por conta de uma maquete que tinha visto e ficado apaixonado.
A partir daí, comecei a desenhar casas, plantas, prédios da cidade, etc. Também com 14 anos, comecei a fazer teatro, uma coisa que eu adorava, e permaneci no meio teatral por muitos anos. Isso me abriu a cabeça pra pensar em misturar linguagens diversas como literatura, artes plásticas, vídeos e, claro, artes cênicas.
Comecei a faculdade de arquitetura em 2008 e foi quando eu tive o primeiro contato com stêncil. Banksy estava começando a explodir, exalava uma crítica ácida, política e dialogava com a cidade. Achei incrível e aí comecei a fazer os meus. Era algo bem simples, geralmente nos retalhos de papel que sobravam das maquetes ou em chapas de raios x.
Depois disso, meu interesse por arte de rua e história da arte cresceu e fiz meu trabalho final sobre arte urbana. Os principais casos eram de stêncil e a partir daí conheci muitos artistas e comecei a pesquisar bastante e produzir mais frequentemente trabalhos na rua.
Você vive somente da arte? E como foi essa passagem, essa mudança na sua vida?
Pina: Durante a faculdade, trabalhei um tempo no xerox, o que me aproximou muito de vários cursos, mas principalmente de design e artes.
Sempre que alguém ia tirar cópia de algum material interessante, eu tirava uma cópia a mais pra mim e assim fui estudando o que me interessava.
Algum tempo depois, quando trabalhava num escritório de arquitetura, tive a oportunidade de trabalhar com design gráfico. Essa foi a primeira transição. Fiquei alguns anos trabalhando com arquitetura, interiores e design gráfico.
Então, me mudei pra São Paulo e fui trabalhar exclusivamente com design gráfico numa agência. Foi a partir deste ponto que comecei a trabalhar com arte, graffiti e ilustração nos horários livres e fins de semana.
Porém, passado algum tempo, acabei ficando desempregado, pois o mercado estava complicado, ainda mais pra alguém que não tinha formação em design. Nesse momento, eu já não queria voltar a trabalhar com arquitetura. Esse rompimento e essa dificuldade foram o estalo pra eu resolver tentar trabalhar sozinho, com arte e com design de forma freelance.
Foi aí que que tracei o objetivo de trabalhar somente com arte e, aos poucos, foram aparecendo clientes de arte e desaparecendo clientes de design. Mas sempre que aparece um trabalho que mistura arte e design, ou arte e arquitetura, gosto muito, pois mato as saudades daquela época.
DA: Seu stêncil tem uma característica técnica que é o nível de detalhes. Fale mais sobre isso.
Pina: Tem sim. Acho que isso se deve à minha formação em arquitetura. Eu gosto de explorar o material, o que pra mim é encantador. Adoro a possibilidade de construção apenas com uma folha de papel e um estilete.
Dentro do que eu faço, as cores têm um poder muito grande. Então, tomo muito cuidado para que elas não chamem mais a atenção do que os cheios e vazios do papel. As cores são ‘acessórios’ dentro da composição.
DA: Por que o stêncil? O que te chama tanto a atenção nesta técnica?
Pina: Desde de adolescente eu gosto muito de gravuras e técnicas manuais de impressão. Mas o stêncil foi a primeira forma de manifestação artística, antes mesmo das pinturas rupestres. Isso é um ponto que me interessa, de manter essa técnica viva e reinventá-la sempre.
Outra coisa que me agrada bastante é a efemeridade, de você saber quando um stêncil está no fim de seus dias e será jogado fora. A matriz do stêncil não é pra sempre, tem um número muito limitado de cópias que se pode fazer. Muitas vezes, eu faço stêncils e reproduzo somente uma vez.
Existe uma flexibilidade bem interessante no stêncil. Eu posso não reproduzir e a própria máscara se torna o objeto final, posso reproduzir uma vez ou posso reproduzir várias vezes. Além de poder usá-lo em diversas superfícies, posso fazer quadros, pôsteres, camisetas, lambes, fotos com light stêncil ou pintar direto na rua.
DA: A tipografia da sua assinatura é animal. Ela tem algum significado em especial?
Pina: Quando eu estava entre o design gráfico e a arte, me interessei bastante por tipografia, caligrafia e lettering.
Queria desenhar uma letra que fosse minha pra usar nas ilustrações, nunca tive a pretensão de projetar uma família tipográfica. Eu acho o Pixo muito bonito, é uma simbologia que gosto muito, assim como as Runas antigas. Então, resolvi juntar essas duas simbologias e saiu essa fonte.
DA: Conta um pouco sobre o seu processo criativo.
Pina: Meu processo criativo é muito flexível, não existem regras. Às vezes as ideias vem sozinhas, mas em outros momentos preciso correr atrás delas. Às vezes elas vêm prontas, e outras vezes vêm só em pedaços. São perguntas sem respostas e até respostas sem perguntas, mas independentemente de qualquer coisa, sejam imagens, cenas ou textos, sempre começo com papel e lápis.
A produção depende muito do projeto, principalmente da escala, mas o desenho original é sempre no caderno, geralmente com nanquim. Depois digitalizo e trato. Dependendo da escala, ou projeto e desenho por cima ou ploto ou imprimo e depois corto.
Como matriz, geralmente uso sulfite pra quando vai ser pintado uma única vez ou papel cartão pra reproduzir mais vezes.
DA: Tom, quais são suas principais referências e como elas influenciam seu trabalho?
Pina: Nossa, é muita gente e pelos mais diversos motivos. A estética das antigas gravuras me encanta, como de Dürer. O abstracionismo geométrico do Malevich, o surrealismo de Magritte. A personalidade de Basquiat, Frida Kahlo, Pollock e Picasso.
E claro, dentro do stencil e da street art, Banksy, que foi o primeiro stencialista que eu conheci. Também gosto muito de Alex Vallauri, Shepard Fairey, Vhils, NeSpoon e muitos outros artistas contemporâneos que me influenciam diariamente.
DA: E sobre movimentos artísticos? Existe algum em especial que você tem como referência?
Pina: Dificilmente um movimento é separado do outro. Essas mudanças são orgânicas, mas acredito que o suprematismo, o surrealismo e o neo construtivismo são as principais influências. Além da street art, é claro.
DA: Tem algum trabalho seu que você gosta mais ou possui um carinho especial?
Pina: Não. Eu tenho uma relação bem livre com os trabalhos, gosto e desgosto do mesmo trabalho com frequência.
DA: Você fala algumas vezes sobre ideologia. Para você, o que é essa ideologia do artista?
Pina: Não se enganar, ter consciência das mudanças, das suas atitudes e das consequências. Ter paciência e resiliência para alcançar seus objetivos sem atalhos que pareçam simples demais. Se manter atento e firme, lutar contra o que você não acredita e defender o que acredita, mesmo que isso mude ao longo do caminho.